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Economistas antecipam estabilidade dos índices de inflação em 2024

A atuação dos preços dos alimentos e a implementação de uma política monetária que manteve os juros elevados em 2023 foram determinantes para manter a inflação sob controle no ano que está chegando ao fim. Essa análise é compartilhada por especialistas entrevistados pela Agência Brasil nesta quinta-feira (28), quando foram divulgados dois importantes índices de inflação.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), conhecido como uma prévia da inflação oficial do país, fechou 2023 com uma taxa de 4,72%, o valor mais baixo registrado nos últimos três anos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Por sua vez, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), calculado pela Fundação Getulio Vargas, apresentou deflação no ano, indicando uma queda média de 3,18% nos preços. Esse resultado representa uma reviravolta em relação ao índice, que chegou a encerrar 2020 com uma taxa de 23,14%. Em 2021, a inflação também permaneceu em dois dígitos, alcançando 17,78%, mas em 2022 começou a desacelerar, terminando o ano com uma taxa de 5,45%.

Fatores Chave

Segundo o economista e professor do Ibmec, Gilberto Braga, esses números refletem o acerto da política macroeconômica do governo e do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), responsável por determinar a taxa básica de juros da economia, conhecida como Selic.

Ao longo do ano, a Selic foi mantida em níveis elevados como uma medida para desestimular a atividade econômica e, consequentemente, combater a inflação. O ano começou com uma taxa de 13,75%, e após quatro cortes consecutivos no segundo semestre, encerrou 2023 em 11,75%.

Braga observa que ainda existem grupos de preços que continuam exercendo pressão sobre os índices, principalmente o grupo de aluguéis, que tem aumentado mais do que a inflação média. No entanto, ele destaca que “os preços dos alimentos, em geral, estão em queda, o que tem contrabalançado positivamente as pressões de aumento”.

O professor do Ibmec acredita que essa tendência deve se manter em 2024, com a inflação tendendo a cair.

No entanto, Braga também aponta para os riscos provenientes do exterior, especialmente devido aos conflitos na Rússia com a Ucrânia e no Oriente Médio (ofensiva israelense na Faixa de Gaza), que afetam os preços do petróleo, dos seguros e do comércio internacional. Apesar dessas ameaças, a expectativa é bastante positiva para 2024.

Commodities

O pesquisador André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), destaca que os preços das commodities agrícolas e minerais, negociadas a nível internacional, desempenharam um papel importante na moldagem da inflação em 2023.

“Na área agrícola, produtos como soja, milho e trigo, que são matérias-primas essenciais para diversos alimentos, experimentaram quedas significativas nos preços para os produtores. A soja, por exemplo, registrou uma queda de 21,92%, enquanto o milho teve uma redução ainda maior, de 30,02%.”

Braz explica que o comportamento do IGP-M reflete uma “correção” do impacto inflacionário causado pela pandemia entre 2020 e 2022.

“Devido às boas safras, tanto no Brasil quanto em outros países produtores de grãos, houve uma queda substancial nos preços. Isso ajudou a compensar os aumentos acentuados ocorridos anteriormente”, explica.

Apesar de o IGP-M divulgado nesta quinta-feira ser o mais baixo já registrado para um ano fechado (-3,18%), Braz observa que o índice mostra uma tendência de aceleração. Em julho, a taxa de queda acumulada em 12 meses estava em 7,72%.

“O índice está acelerando e se aproximando cada vez mais de zero, devendo entrar em território positivo. Um valor negativo é algo incomum para o IGP-M, pois, em condições normais, os preços tendem a subir”, acrescenta. Em dezembro, o índice mensal registrou 0,74%.

IPCA

No que diz respeito ao IPCA, Braz observa que o resultado de dezembro, com uma variação de 0,40%, ficou acima das expectativas. Isso se deveu, em grande parte, a aumentos de preços controlados, como água e esgoto, energia, passagens de ônibus, trem e metrô em várias cidades do país.

Especificamente para dezembro, o economista da FGV nota que houve surpresas nos preços de alguns alimentos, especialmente aqueles com características sazonais.

“Não se tratou de um aumento generalizado, mas sim sazonal, afetando produtos que normalmente têm uma oferta menor no verão devido às condições climáticas, como produtos encontrados em feiras livres, como hortaliças, legumes e frutas, que tiveram preços inflacionados devido ao clima adverso.”

Outro fator de influência foi o aumento dos preços dos alimentos fora de casa durante o período de festas e férias, quando as famílias costumam comer em restaurantes e lanchonetes.

Apesar dessas variações em dezembro, Braz destaca que, ao longo do ano, o preço dos alimentos teve um comportamento positivo para a economia brasileira, contribuindo para que a inflação oficial ficasse abaixo das expectativas do início do ano, quando o mercado estimava o IPCA perto de 5,5%.

O IPCA-15 indicou que o grupo de alimentos e bebidas subiu apenas 0,83% em 2023.

“Isso representa uma variação relativamente pequena em relação a uma inflação média de 4,72%. Em termos reais, o preço dos alimentos não aumentou, o que é positivo, uma vez que o custo dos alimentos é uma preocupação maior para as famílias de baixa renda. Isso proporcionou espaço para que essas famílias consumissem outros produtos”, destaca.

O IPCA fechado de dezembro e de todo o ano de 2023 será divulgado em 11 de janeiro. Braz estima que o número deva ficar próximo a 4,45%.

Se esse patamar se confirmar, estará dentro da meta do Banco Central, que é de 3,25%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, o que estabelece um limite superior de 4,75%.

Para 2024

Quanto ao próximo ano, assim como Gilberto Braga, do Ibmec, que tem uma visão otimista, André Braz espera que o IPCA encerre 2024 em torno de 4%. No entanto, ele também identifica desafios, como os conflitos entre Rússia e Ucrânia, bem como a ofensiva israelense contra o Hamas.

André Braz acrescenta ainda outro fator de preocupação: o El Niño, um fenômeno climático que afeta as temperaturas das águas do oceano Pacífico e tem impacto nas safras em várias regiões do mundo.

“Assim como afetará os preços ao produtor no IGP-M, também influenciará os preços para o consumidor, ocorrendo uma transferência de custos. Isso pode ser um desafio para o próximo ano.”

No cenário interno, Braz menciona que a política fiscal do governo, ou seja, o montante de gastos públicos, pode afetar o comportamento da inflação, caso haja dúvidas sobre a capacidade do governo de cumprir as metas orçamentárias. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, expressou a intenção de alcançar um déficit zero em 2024.

“Se essa meta ficar ameaçada, pode haver uma desvalorização da moeda em relação ao dólar, o que causaria inflação, uma vez que os preços das importações aumentariam”, explica.

Juros

O economista do Ibre avalia que a política de juros do Banco Central desempenhou um papel importante em 2023 ao conter a inflação. No entanto, ele observa que a taxa Selic, ainda em 11,75%, continua elevada, o que representa um desafio para o crescimento econômico do país, a geração de emprego e renda.

Mesmo diante dos desafios mencionados, Braz acredita que a inflação seguirá uma trajetória controlada o suficiente para permitir novos cortes na taxa básica de juros.

“Eu acredito que o Banco Central terá condições de continuar reduzindo a taxa, mesmo com esses desafios no horizonte. É provável que a Selic termine o próximo ano em torno de 9%”, afirma.

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